terça-feira, 26 de julho de 2011

Cinzento meu cantinho


Rico que é o meu lugar. Aparenta pouca vida, mas mostra em suas altas temperaturas as singelas e diferentes  formas que sobrevivem.
Sem água, o que fazer pra matar a sede nessa paisagem cansativa. No meu árido não caminham os que sabem voar, ou rastejam simples animas, pois não tem como safar-se da terra fervilhante, todo seu sofrimento adaptado, lutam pela vida, isso sim os caracteriza, os enriquecem mais.
Árido, semi, sertão, cariri, brejo, chame como chame minha paisagem, de cada, uma beleza maior, simples em seus poucos tons, mais encantadora em diverso.
Quente paixão, arrebatadora pela sua terra. Experiente termômetro natural, testa de chapa de fogo. Pobre homem nordestino, lutador, sofredor, feliz, inspirado, sonhador. Como dizê-lo.
Lata d’água da salvação, quando cheia. Alpercata dos pés, rachaduras de trabalho. Olhar cambito, morto pela metade, talvez fosse um cisco, quem sabe?
Árido do conhecedor, semi de pobreza, mas de dinheiro, sertão de esperançosos povos rupestremente sabidos na limitação da localidade.
Meu cariri de saudade, de sol castigador. Meu cariri de princesa, de amor de moça calada, tímida, do bode que ali é rei, é da rua, é do ganho, é do sabor, da simplicidade da vida matutina.
Brejeira terra de saudade, que deixo, que sinto. Ê saudade da riqueza da simplicidade de meu recanto, cheio de coisa sem nome, só apelido pra o bom entendedor.
Briba, largaticha, coroca, só na baliadeira pra dar um jeito, nas paredes de reboco grosso, só sapliscado. Vida de moleque danado. Escola caatingueira, só aqui que tem.
Caatinga, por aqui isso não existe, da flor de laranjeira, marmeleiro, goiabeira, sem falar de muito mais, o perfume natural, mas também caatinga, só se encontra aqui e em mais canto nenhum.
Terra do meu peito, solo da minha saudade, da riqueza do pobre, do simples.
De pau de casa cheio de cupim, na adrenalina do cai não cai. As senhoras com a barra das saias dadas um nó, pras cobras na madeira da casa não caírem.
Do garrote magro, do jumento relógio, do soinho nas cercas, do pau-de-arara de sábado de feira, do cabriolé carregado de ração, do galão d’água que pende para um lado e para o outro na cacunda do homem cansado de limpar mato ou de viajar a pé pra buscar a água do feijão, de corda, de arranca.
Homem de cara amassada, sofrida, mas que não perde o sorriso do rosto, quanta satisfação, quanta esperança, começando de madrugada até boquinha da noite.
Aquele cachorro de casa com uma agonia sem fim no rabo, somente porque chamou-o de neguinho e passou a mão calejada no seu espinhaço, cachorro baleia, piaba, jubim, leão, sansão, que danados de nomes pra cachorro. Sertão.
Ô cantinho de segredo, de riqueza, de cultura. Mulher de criança recente na espreita em proteção da negra, a que dar de mamar com o rabo, a cobra preta como diz as experiências da família.
Que lugar explendoroso no cinza até que a flor do mandacaru chegue, a bela flor, branca, esperança de cair no molhado, para um bom inverno, quem nem é no inverno.
Mais se for bom, haja ralo de zinco furado com prego de ripar e braço pra ralar milho e mexer canjica, eita que nesse dia a fartura é sem controle.
Povo encantador na simplicidade e conquistador na acolhida. Nordeste, esse, o nosso rico.
A meu Deus se eu pudesse levar comigo todo o cenário da minha terra, pois no coração não tem mais espaço pra tanta beleza, tanta gente sertaneja, tanto aprendizado.


Por José Lucas Martins



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